13 de janeiro de 2012

O Livro de Caras!



Há muito tempo atrás, eu tava fazendo minhas unhas num salão e uma amiga virou-se pra mim e disse:

Você já viu alguém infeliz na Revista Caras? Alguém feio ou pobre? Ou até passando por alguma dificuldade, angústia ou momento difícil?
Já notou que todos que aparecem nessa revista estão felizes, deslumbrantes e vivendo uma vida excelente? Essa revista é a prova impressa da felicidade!

Foi o que faltava pra eu, pelo resto da minha vida (ou da vida da revista) me lembrar dessa frase e tentar, todas as vezes que abro essa revista, em qualquer lugar que esteja, começar a procurar algum traço de feiura (haja photoshop), tristeza ou pobreza! Pra no final sempre constatar: Não existe ranger de dentes no mundo de Caras! Ela é o caminho pra felicidade!

Só que não, né.  (#dasfrasesdekatylenequeteajudamaseexpressarmelhor)

A dose de realidade chega quando você passa a última página da revista e ela escorrega e ao tentar segurá-la, a sua unha borra (e a unha nunca fica a mesma coisa se pintar de novo. Nunca!).

E foi assim que cheguei à triste conclusão: meu Facebook virou a versão eletrônica da Revista Caras.
E pior: além da felicidade infinita aparente, todas as pessoas são engajadas, militantes da ética, moral e bons costumes, lutam pelo bem dos menos favorecidos, combatem a corrupção no país e denunciam qualquer tipo de pessoa que ouse cometer algum tipo de crime “inafiançável”...  e tudo isso apenas com um click. Pois cada um tem que fazer a sua parte...e a parte que cabe a todos hoje em dia é compartilhar no seu mural qualquer coisa.
Ponto, já fiz minha parte”.
Compartilhando!
Diga não a isso!
E, sempre no final do texto/figura/absurdo a ser compartilhado, a fatídica frase:
“Se você quer mudar o mundo/existir/ser uma pessoa melhor (qualquer uma dessas versões), compartilhe”.
E vai dormir com a consciência tranquila, que fez sua parte por um mundo melhor!
"ai que felicidade"... suspirando.

Mas não! Compartilhar 1.897.456 vezes uma coisa não vai mudar sua realidade. Não a sua. Não a da coisa. Não. Você não se tornou uma pessoa melhor. Você não mudou o mundo. Sorry!
E não vou nem comentar sobre o embate “Contra x A Favor” do BBB e Teló.
Boring....

E acabei de notar agora escrevendo isso:
Facebook... Caras...face...rosto...cara....nossa! Mesmo nome até. Ou quase.
To dizendo! Cada vez mais comprovando meu (quase) teorema.

Teorema --> É uma afirmação que pode ser demonstrada verdadeira por aceitar operações e argumentos matemáticos.


Eu entrei no facebook em 2007 (descobri quando mudei minha página para a linha do tempo). A única pessoa conhecida que eu seguia era Leska, uma amiga que, claro, morava nos States (dia desses ela me disse que eu era a única amiga brasileira dela, nessa época, no face). Mas isso não importa.
Não esse fato. O que importa é que o face era completamente diferente do que é hoje. Menos felicidade, mais realidade.
O objetivo era outro (ou pelo menos aparentava ser. Não dá pra saber direito. Eu não seguia muita gente).

E os virais do face? Ahhhh, os vídeos virais!
Se surge algum video na internet...você tem o-b-r-i-g-a-ç-ã-o de compartilhar na sua página. Afinal... É lindo, emocionante, digno, descolado... engajado... já vi na página de alguém... já vi ontem... vi semana passada... faz 6 meses que tá na internet.... aff... de novo isso?

Que o diga Adele.

Não sei se vocês sabem mas Adele estorou no Reino Unido em janeiro do ano passado. Em março, os britânicos não aguentavam mais ouvir “Someone like you”.
 “Rolling into Deep” foi o sucesso do verão americano do ano passado. E o verão lá é no meio do ano (pra quem ainda não sabe).
E você tem que aguentar em dezembro (sim, dezembro, 11 meses depois, na sua timeline do face, a cada 2 segundos, alguém postar um desses 2 videos com a frase: “Já viram a novidade?”, “Adele, uma cantora que surgiu agora, do nada!", “Ela é incrível!”, “Eu tenho que compartilhar esse meu conhecimento com o mundo”.
E eu só pensava: Eu to doida ou eu fiz um post neste blog sobre exatamente essas duas músicas em 05 de junho de 2011?


E ai de você se você não concorda com a opinião unânime e única de todos.
Que o diga eu que resolvi questionar a “beleza” daquele video: “A banda mais chata da cidade!” . Ah, não era chata a palavra? Pra mim era chata. A banda.
Mas foi a maior discussão. Fui chamada de ranzinza à insensível. 
Quase volto a 2007... sem amigos no face.

Mas não condeno o uso do face. Até uso ele como ferramenta de trabalho.




As Retratistas à Curtam!

E eu leio Caras também. Kkkk

Mas perdi a vontade de escrever. Aqui no blog...lá no face... tenho a impressão que falo com as paredes. Que só daqui a 6 meses (ou anos)  é que alguém vai entender o que falei e, claro, nem vai lembrar que falei... e claro vai compartilhar no seu face a mesma coisa. Só que vai ser em clima de novidade.

E acho que todos tem o direito de compartilhar o que quiser e tiver vontade lá. O fb é o blog pessoal de cada um (huuuum...até isso...e depois me perguntavam pra que eu tinha blog.)

E é isso tudo que cansa. Porque todos escrevem, escrevem, escrevem... e a única coisa que me vem à cabeça quando leio minha TL do face é:

“Eu presto atenção no que eles dizem,
 mas eles não dizem nada!”

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