5 de maio de 2011

#tapacura!

Eu ia começar hoje a relatar minha viagem aqui no blog, mas ocorreu um “parem as prensas” e, em cima da hora, tive que mudar o assunto.
Gente... o que foi isso que aconteceu em Recife hoje?
Como assim “#tapacura” foi parar nos TT´s do twitter hoje à tarde?
Kkkkk

Tudo começou...

Quando fui trabalhar hoje, ao passar ao lado do rio Capibaribe, ali por trás do Shopping Plaza, realmente me chamou atenção como o nível do rio estava alto e como a correnteza estava forte. Mas eu já tinha ouvido, desde ontem, que as comportas da barragem de Carpina tinham sido abertas pra escoar a água das chuvas...e achei normal o rio estar mais cheio. Afinal, nem tava chovendo... tava até fazendo sol. Nenhum motivo aparente de preocupação.

Já no trabalho, li vários emails com piadinhas de “Raincife”, tipo:
- "Depois do Airbag, os coletes salva vidas são os opcionais mais importantes nos carros do Recife" ou
- "A Dilma está lançando o BALSA-familia aqui no Recife".

...e recebi um mail com uma foto tirada no shopping Plaza, mostrando que o canal na frente dele tinha transbordado, com a maré cheia da manhã.
http://twitpic.com/4tr8k8
Como eu tinha acabado de passar por ali, não achei nada assustador...
De repente, lá pelas 16h, a contínua do meu andar veio com uma cara um pouco assustada me perguntar:
 - É verdade que “a barragem de Tapacurá vai estourar”?
- Ahn? Claro que não. O rio tá mais cheio porque abriram as comportas, mas claro que não vai estourar nada (eu trabalho no centro e dá pra ver o rio da janela lá da sala).
- É porque liberaram todos pra irem pra casa mais cedo! Por causa do alagamento que vai acontecer.
- Oi?
O.O

--> Sim, o rio Capibaribe corta toda a cidade. Ou você mora, ou você trabalha, ou você passa por ele em algum momento do dia (a não ser que você viva em Boa Viagem e não frequente os outros bairros da cidade ... mas lá também tem seus rios e suas águas por todos os lados).

E meu colega, que eu ia voltar de carona, entra logo depois na sala e diz: "Vamos embora pois to preocupado com o nível do rio!" (o que achei até justificável uma vez que ele mora numa casa no Poço da Panela, bem perto do rio e o rio estava "alto"). 
Quando cheguei em casa, o porteiro do prédio fez a mesma pergunta: "Tapacurá vai estourar?"
E ao entrar no meu apê, meu celular toca e é minha prima: "Diga o que é verdade e o que é boato... to presa no trânsito e meu filho ligou em pânico!" (ela também mora numa casa na beira do rio)... e de repente... de boato em boato...

As notícias eram: 
O shopping Plaza acabou de fechar as lojas e mandar todos pra casa.
"Tapacurá vai estourar".
As faculdades cancelaram as aulas noturnas. 
"Tapacurá vai estourar".
Os colégios suspenderam as aulas e estavam ligando para os pais irem buscar os filhos imediatamente.
"Tapacurá vai estourar".
E... do “nada”... se você não fosse pra um lugar alto e seguro, morreria afogada pelas águas assassinas do Rio Capibaribe, vindas do estouro da Barragem de Tapacurá. 
Todos entraram em seus carros, procurando uma rota de fuga, e o trânsito da cidade, que já é caótico em dias normais, literalmente "travou".

E Tapacurá foi parar nos TT´s.
Sei não viu...
Fico imaginando as pessoas "de fora" tentando descobrir o significado de Tapacurá. :)

Tapacurá é uma barragem construída no Rio Tapacurá (aqui pertinho em São Lourenço da Mata) e que juntamente com as barragens de Goitá (em Glória do Goitá), Carpina e Jucazinho (entre Toritama e Surubim) fazem parte do sistema de controle de cheias da Região Metropolitana do Recife e são utilizadas também para o abastecimento da população.

Vocês sabem, né...
Recife é uma grande lagoa onde, na época de seca, se constroem prédios, casas e ruas.
(tenho certeza que a rua que minha mãe mora é, originalmente, um leito de rio... certeza!!!)

E, para os recifenses, Tapacurá significa também “Cheia”.
Aliás, o estouro de Tapacurá significa “morreremos todos afogados”. 
Mesmo com toda a tecnologia, informação e esclarecimento que, hoje, boa parte da população “allegedly” possui.
Leiam a história aqui: "Tapacurá Estourou!"

Imagens da "Cheia de 75", em Recife: 
Ilha do Retiro, 19 de julho de 1975. Registro do arquivo fotográfico do Diario de Pernambuco.
Estádio do Arruda, 1975.

Estrada dos Remédios. Década de 70.

E daí, juntou a história de Tapacurá (Cheia de 1975) + a previsão de muita chuva pro final do dia + a abertura das comportas das barragens para o escoamento da água das chuvas (que caíram nos últimos dias por aqui) + a maré alta de 2.3 que ocorreria no final da tarde + a internet + um monte de gente “doida que acredita em tudo que lê/ouve/se desespera/repassa” e pronto:

Foi necessário o Governador do Estado ter que dar uma entrevista coletiva pelo rádio (toda a cidade estava dentro dos carros, presa no trânsito – não adiantava falar pela TV – kkkk) para desmentir o boato e acalmar a população.

E assim, por incrível que pareça, 36 anos depois, um novo capítulo da história “Tapacurá Estourou!” foi escrito hoje no Recife.

E a chuva nem caiu, a barragem nem estourou e a inundação nem aconteceu.

2 comentários:

Relma on 6 de maio de 2011 às 11:19 disse...

Como assim eu moro num antigo leito de rio??????? Aqui so enche qdo chove. hehehe. Alem desse rio particular, nao passo, pelo Capibaribe hora nenhuma do meu dia, nem para ir ao trabalho. E olhe que nem moro em boa viagem. hehe

Robi on 6 de maio de 2011 às 15:04 disse...

Primeiro: quem tem rio particular não conta. kkkk
SEgundo: vc passa sim...quando vai buscar Rai no colégio (na esquina do Museu).
:P

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